Tema 23
Apocalipse: auxílio
divino
na hora certa - Parte 01
Dr. José Carlos Ramos
Janeiro, 2014
O
maior livro profético da Bíblia, o Apocalipse, foi escrito para orientar, estimular
e fortalecer a Igreja em todos os tempos. De fato, desde que fundada por Jesus,
ela se viu em meio às tormentas e enganos de um mundo hostil e ameaçador,
inimigo do bem e de quantos se colocam do lado de Deus e de Sua vontade. Cristo
advertiu Seus seguidores a que não se iludissem com a ideia de que não
enfrentariam dificuldades no trajeto para o céu. O evangelho da prosperidade, pregado por algumas
igrejas atuais, não condiz com as claras afirmações bíblicas, de que todos
aqueles “que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm
3:12), e de que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus” (At 14:22).
Satanás,
o rebelde inimigo de Deus e de Seu povo, tem empregado dois recursos básicos na
tentativa de destruir a Igreja: a perseguição, motivada pelo preconceito e
intolerância do mundo, e a disseminação do engano, para o quê ele forçaria a
entrada nos domínios do cristianismo. E foi exatamente nesse contexto duplo de
artifício satânico que o Apocalipse emergiu. O ano era 95AD, quando a Igreja
enfrentava dois tipos de ameaça, uma interna,
a adoção de conceitos pervertidos, e
outra externa, a perseguição por
parte do mundo. Naturalmente entendemos que a primeira, sutil e por isso
perigosa, sempre resultou em maior dano espiritual. Consideremo-la
inicialmente.
Ameaça interna
No
fim do I século, uma filosofia religiosa, grega de origem, conhecida como gnosticismo era difundida em todo o império
romano. Sustentando múltipla expressão de pensamento e prática, o gnosticismo estava
sendo, já por algum tempo, uma séria ameaça para a pureza doutrinária da fé
cristã, com respeito principalmente à pessoa do Salvador, à natureza da criação
divina, à natureza do ser humano, e à forma como este poderia ser redimido.
Muitos
na Igreja se sentiam atraídos por conjeturas que ofereciam uma lisonjeira perspectiva
de superação dos obstáculos à posse plena da vida autêntica, disponível, segundo a filosofia, apenas àqueles
que obtivessem o conhecimento dos mistérios divinos. Tal conhecimento,
identificado como gnosis, era supostamente
outorgado, é claro, àqueles que adotavam o gnosticismo. O cumprimento de certos
rituais de iniciação conferia ao candidato o título de mystes, o que outorgava a obtenção progressiva de um conhecimento
que, era crido, libertá-lo-ia e lhe daria uma condição superior de vida.
Naturalmente as verdades do Evangelho eram distorcidas, e o pecador era
acalentado num ilusório e fatal sentimento de segurança.
Por
esse tempo, alguns mestres cristãos deixavam transparecer suas tendências
gnósticas. O gnosticismo tornara-se agora uma ameaça interna real. Entre esses
mestres, destacava-se certo judeu cristão do Egito, formado em Alexandria, e
que habilmente conseguiu revestir os ideais gnósticos com uma roupagem cristã.
Chamava-se Cerinto e seus ensinos conspiravam contra a estabilidade da Igreja
na Ásia Menor, particularmente Éfeso, o domicílio do apóstolo João em seus
derradeiros anos.
O
que Cerinto ensinava? Como gnóstico, ele considerava a matéria essencialmente
má. Deus não poderia ter criado diretamente o mundo, pois este é matéria, e
Deus não Se relaciona com algo essencialmente mau. Deus, portanto, usara intermediários
para criar. Um desses era Cristo, o qual não deveria ser confundido com Jesus,
o vulto histórico que vivera na Palestina, e que, embora extraordinário, era um
homem comum, filho natural de José e Maria. Cristo, entretanto, era espiritual,
celestial e divino. Jesus e Cristo, portanto, eram distintos um do outro. Cristo
se juntara a Jesus por ocasião do batismo, mas O abandonara pouco antes da
cruz. Assim, a morte de Jesus não reunia qualquer valor salvífico. Ele fora
apenas mais um mártir entre outros.
Cerinto
também ensinava uma escatologia antibíblica. Escatologia é a doutrina dos
últimos acontecimentos, tanto para o ser humano individualmente, como para o
mundo. Para o gnosticismo, a salvação começava para quem se apoderasse da gnosis. Tal aquisição contribuía para a
libertação da alma, prisioneira que era de coisas ligadas à matéria. Todavia, a
libertação plena e definitiva ocorria na morte. Para o gnóstico, o corpo era um
cárcere, e quanto mais cedo a alma se livrasse dele, melhor. Portanto, a teoria
da imortalidade da alma é de origem
greco-pagã, e não é parte do cristianismo original.
Em
seu Evangelho e primeira Epístola, João combate frontalmente a dicotomia
herética de Cerinto (tanto relativo ao homem como a Jesus) e outros enganos do
gnosticismo. E no Apocalipse ele não deixa por menos. Já na abertura, João
afirma que a revelação divina, o único meio de se obter a verdadeira gnosis, ou conhecimento, é feita por Jesus Cristo (1:1). Os
dois termos indicam que apenas uma pessoa é pretendida. A designação completa,
Jesus Cristo, aparece mais duas vezes neste capítulo, nos versos 2 e 5, o
último contendo a declaração de que Ele é o “primogênito dos mortos” ou seja,
Cristo positivamente morreu e ressuscitou. João não poderia ser mais claro.
Ademais, é Este mesmo Jesus Cristo
que em seguida apareceu em visão e lhe disse: “Estive morto, mas eis que estou
vivo pelos séculos dos séculos” (v. 18)
Além
disso, observamos que, em termos de literalidade, é o Filho da mulher que é
arrebatado para o trono de Deus em 12:5, e que o sacrifício de Jesus é de fato salvifico,
pois garante ao homem o triunfo sobre Satanás (v. 11). Este sacrifício é também
condição sine qua non para que a
revelação, sem a qual, repetimos, não é possível nenhum correto conhecimento de
Deus, se torne efetiva (5:5, 9). Finalmente, é este sacrifício que nos coloca no
reino eterno (7:14-17; 22:14). A posse da vida autêntica, portanto, não ocorre
nas condições do gnosticismo.
Que
a matéria não é essencialmente má, ao contrário de como entendia Cerinto, e que
Deus é o direto criador dela, se depreende das palavras de 4:11. Além disso,
Deus recriará o mundo após colocar um ponto final na história do pecado (caps.
20 a 22). E com isto, João contradiz a escatologia
gnóstica com uma grandiosa descrição
dos verdadeiros eventos finais: Deus extirpará o pecado e trará de volta, agora
mais plenamente, o mundo perfeito e imaculado de antes. E João contesta o
engano gnóstico da imortalidade da alma reafirmando que os crentes mortos
tomarão posse da vida eterna exclusivamente através da ressurreição quando
Jesus voltar (20:6).
E
assim, justamente quando conceitos falsos ameaçavam, na Igreja, a unidade da fé e da
esperança, Deus fez o Apocalipse emergir. O fim do primeiro século
estava chegando. Por algum tempo a Igreja esperara o retorno de seu Senhor, e
Ele não viera. O gnosticismo acenava com as glórias da salvação já e agora com
a posse da gnosis, e com a
perspectiva da ida para o céu logo após a morte. Cristo então retornaria para quê?
A
Igreja, portanto, estava carecendo uma vez mais do amparo da verdade para o fortalecimento
da esperança adventista, isto é, a esperança na segunda vinda de Jesus, como
algo plenamente genuíno e necessário. A isto o Apocalipse se prestou de forma
singular.
Hoje
vivemos no século 21. Cristo ainda não retornou e igualmente somos
bombardeados com todo tipo de ideias, todas tentando se impor como verdadeiras.
Que fazer? Nossa única alternativa segura é volver a atenção ao que a Bíblia
diz. Particularmente o Apocalipse revela o que está para acontecer. Simplesmente
não precisamos ser enganados. Continuaremos na próxima postagem.
Meu Amigo Pr Dr Ramos!
ResponderExcluirSeu post chegou na hora "H" para mim pelo menos, mas irá ajudar a muitos.
Eu estava em busca de conhecimento mais conciso sobre o desdobramento da mentira pregada por Satanás no Éden sobre a imortalidade natural do homem, e agora você me presenteia de forma tão clara como esta filosofia chegou na igreja cristã e se espalhou pela maioria do cristianismo até nossos dias.
Deus continue iluminando seu lobo frontal, para nos ajudar com suas mensagens.
Oro para que você viva ainda muito para ensinar humildimente a todos quantos Deus lhe der oportunidade de discipular.
Amo você e sua família.
Seu amigo Robin. www.voxdesertum.blogspot.com
Parabéns pastor, artigo muito bom!
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