segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Tema 02

Cristo, o Centro da História
e da Profecia

 José Carlos Ramos 
janeiro de 2013
                                                                                                                                                                                                                                                                      
           
            Jesus Cristo é o centro da História, como sugere a clássica divisão a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo), ou A.D. (anno Domini). Para os que visualizam a História da perspectiva profética, ela se centraliza em Cristo porque, antes de tudo, nEle se centraliza toda a profecia. Deste centro deve o inteiro curso da História ser compreendido, e toda profecia interpretada. Para Ele converge e nEle se efetiva o todo da ação salvífica de Deus na História. Sem Cristo a História não teria sentido, ou não poderia ser a história de Deus salvando o homem.
            A obra divina de restaurar tudo o que o pecado pôs a perder está plenamente fundamentada no Calvário e é dele dependente. A cruz é, inegavelmente, um fato histórico consumado. Ela foi levantada num determinado local geográfico e num ponto específico de tempo. Mas a virtude salvífica que promana da cruz transcende o tempo e o espaço. É, sem dúvida, uma das feições mais significativas do Evangelho.
            A ação divina para salvar, posta em operação desde a entrada do pecado, converge para a cruz como centro catalisador e daí deriva para o alcance de seus efeitos em todas as épocas e lugares, enquanto perdurar a sombria presença do pecado. Em virtude do que ocorreu na cruz, Deus opera nas dimensões do tempo. Passado, presente e futuro estão incorporados no processo transtemporal de salvação provido por ela.
            A invisível atuação de Deus no curso da História cumprindo Seu propósito de salvação, se torna visível na manifestação do Filho de Deus. Na pessoa e obras de Jesus se evidencia o fato de que Deus age, continuamente, salvando. O evento do Calvário envolve toda a História da salvação, pois aqueles que são salvos, antes e depois da cruz, obtêm essa graça em Cristo e em razão de Seu sacrifício.
            Com isso em vista, não é difícil perceber porque a profecia bíblica não trata exclusivamente do futuro, como fazem as profecias populares. Ela, de igual modo, também  revela a verdadeira essência do passado e do presente. Engloba, em seu mais amplo aspecto, o tratamento de Deus com o pecado. A profecia bíblica ― tanto em sua formulação como no cumprimento das previsões ― a presença de Deus por meio de Jesus Cristo, a “testemunha fiel e verdadeira” (Ap 1:5; 3:14), o perfeito Revelador. Na transcendência da cruz ocorre a concretização do plano da redenção. Por meio dela o plano se torna viável e efetivo.

Cristo, Agente e Objeto da Profecia

            Considerando que o propósito salvífico de Deus na História se cristaliza na pessoa de Jesus e em Sua obra, e que a profecia bíblica enfoca basicamente esse fato, é perfeitamente lógico que o Novo Testamento a identifique como o “testemunho de Jesus”, e o seu conteúdo como a “revelação de Jesus” (Ap 19:10; 1:1).
            Ambas as expressões podem ser entendidas subjetiva e objetivamente: Jesus Cristo é tanto o agente como o objeto da revelação profética. Ele é o Revelador bem como Aquele que é revelado, mesmo porque Ele não apenas profere a Palavra de Deus (Ap 1:2), como é a própria Palavra que “se fez carne” (Jo 1:14). Ele não é um profeta a mais que veio para se juntar aos anteriores, mas Ele é o Profeta. Ele é a corporificação, a personalização da mensagem profética outorgada por Deus desde o princípio. É aquele Deus que no passado enviara os profetas e agora assume a natureza humana, tornando-Se um de nós e um conosco; nEle profeta e profecia se consubstanciam formando uma unidade, uma única realidade. Cristo é tanto o propósito de Deus como o Revelador desse propósito.
            De fato, desde que o pecado surgiu neste mundo, Jesus é o meio pelo qual Deus tem revado a Si mesmo e cumprido o Seu propósito. O Novo Testamento o chama de Logos, a Palavra (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13), o pensamento, o propósito divino expressado e concretizado. O processo de revelação e operação salvíficas desenvolvido por Deus na História, e observável na formulação e cumprimento da profecia, alcança seu auge na vida, morte e ressurreição de Jesus.
            O tema do primeiro enunciado profético é, dessa forma, o tema de toda revelação posterior. Jesus, o Cordeiro morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8; ver também 1Pd 1:19, 20), é Aquele “de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas” (Jo 1:45; ver também 5:39, Lc 24:27 e At 3:22-24). Pedro a isso aludiu quando afirmou: “Foi a respeito desta salvação [tema da profecia] que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça [tema da profecia] a vós outros destinada, investigando atentamente qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo [agente revelador], que neles estava, ao dar de antemão testemunho [lembra a identificação da profecia] sobre os sofrimentos referentes a Cristo [tema da profecia], e sobre as glórias que os seguiriam [tema da profecia]” (1Pd 1:10, 11). Assim, a revelação de Deus e de Seu propósito, para cujo cumprimento se impõe a ação divina na História, é feita em Jesus e por Jesus. A profecia, portanto, não é um fim em si mesma. Ela deve nos conduzir para além dela à pessoa de Cristo, e incrementar fé nEle. “Desde já vos digo, antes que aconteça, para quando acontecer, creiais que Eu sou.” (Jo 13:19).

Qualidade e Implicações da
Revelação Divina em Jesus e por Jesus

            A revelação de Deus e Seu propósito em Jesus e por Jesus é absoluta, final e normativa. Estas feições se devem primordialmente ao fato de que, em Jesus Deus, mesmo entrou na História numa operação sem precedente, agindo direta e pessoalmente em favor do homem.

REVELAÇÃO DIVINA ABSOLUTA

            Ela é absoluta nos seguintes aspectos:
            (1) Alcance. A revelação em Cristo não conhece limites nem fronteiras; é universal. Deus não se dirigiu a uma classe étnica específica, ou a uma elite privilegiada, mas a toda humanidade. A encarnação deriva do amor divino que envolve o mundo (Jo 3:16) e o reconcilia com Deus (2Co 5:19). Todos os membros da humanidade, indistintamente, devem tomar conhecimento da revelação em Cristo (Mt 28:19, 20).
            (2) Autonomia. Ao contrário dos tempos da antiga dispensação quando a revelação divina era feita mediante a instrumentalidade humana conhecida como profetas, em Cristo Deus se comunica diretamente com o homem. É verdade que Cristo é também humano, em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (Heb 2:14, 17; 4:15), mas Ele nunca deixou de ser Deus no mais alto sentido. Foi como Deus que Ele veio salvar o homem. Um Salvador menos que divino seria insuficiente para solucionar o problema do pecado. Assim a encarnação não O despojou de Seu status divino, mas adicionou-Lhe um novo elemento também necessário para a salvação do homem: a natureza humana.
            Na nova dispensação, profetas são ainda chamados e usados por Deus, porém não como canais de revelação no mesmo sentido do que ocorria antes de Cristo. Como diz W. D. Mackenzie, “o dia de mediadores subordinados chegou ao fim” (The Final Faith, pág. 23). Agora é o próprio Deus que se coloca diante dos homens. Por isso, Jesus pôde afirmar categoricamente: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...” (Mt 5:21, 22, 27, 28, 31-34, 38, 39, 43, 44).
            (3) Condicionalidade. Embora a revelação de Deus para alcançar propósito demande a resposta humana, é evidente que a revelação mesma é fruto exclusivo da iniciativa divina ― portanto, é incondicional. Se isto é verdade quanto à revelação em qualquer época, muito mais o é quanto à revelação em Cristo. À luz do Evangelho não há qualquer qualidade meritória inerente ao homem que leve Deus a amá-lo e a buscar sua salvação (Tt 3:4-6). Tudo é dom de Sua graça.
            Por outro lado, o conhecimento de Deus não deriva do esforço humano em procurá-lO e achá-lO. Não é o homem que descobre Deus, mas Deus que Se revela ao homem (At 17:27). Ainda que este deva “procurar o conhecimento” (Pv 2:1-3), a descoberta será sempre na área das “coisas reveladas” e não das “encobertas” (Dt 29:29). É a revelação que provê o campo de pesquisa.
            (4) Idoneidade. Há um sentido de superioridade na revelação divina em Cristo. A epístola aos Hebreus aborda esse ponto quando contrasta a nova dispensação com a antiga. Treze vezes o autor empregou o termo grego kreítton (ou kreísson), significando “melhor”, “superior”, para referir a esse fato (1:4; 6:9; 7:7, 19, 22; 8:6; 9:23; 10:34; 11:16, 35, 40; 12:24). Em Hb 1:4 Cristo é afirmado ser “superior aos anjos”, os mesmos por cuja instrumentalidade a revelação anterior é dita ter sido feita (Hb 2:2;  At 7:53; Gl 3:19). Rejeitar essa revelação implica desprezar o que Deus fez em Cristo. “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão e desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? a qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.” (Hb 2:1-4; veja também 10:28 e 29; 12:24 e 25).
            Quando visualizamos o papel de Cristo na História e na profecia, passamos a entender melhor o plano de Deus descrito na Bíblia para salvação e bem-estar da humanidade.

PRÓXIMA SEGUNDA: TEMA 03. ACOMPANHE!


Um comentário:

  1. Meu Amigo!
    Graça e Paz estão ativamente inseridas no texto e contextos de suas palavras abordadas sobre a revelação profética, sua origem e seu destino.
    Como destinatários da carta de Deus devemos nós a cada dia buscar o agente e centro da Palavra profética, para evitarmos ser corrompidos (Pv.29:18). É nesta busca que encontramos a força e poder para guardarmos a Lei de Deus e sermos realmente felizes - Parabéns mano!

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