O LIVRO DO PROFETA DANIEL E O SIGNIFICADO DA PROFECIA BIBLICA
José Carlos Ramos
Engenheiro Coelho, SP, fevereiro de 2013
Os
traços distintivos da profecia bíblica podem naturalmente ser observados no
livro de Daniel na Bíblia. Este narra os começos do cativeiro babilônico dos judeus e o
ministério deste profeta em Babilônia, capital do império que levou este nome e
dominou uma boa parte do mundo no século 6 a.C. Uma parte do livro foi escrita
em aramaico e a outra em hebraico.
O significado da profecia
bíblica é visto já na maneira como o escritor sagrado nos apresenta o seu
material, história (capítulos 1 a 6) e profecia
(capítulos 7-12) combinadas de forma a permitir que o leitor perceba o que
ocorre por trás dos bastidores. Para Daniel, Deus é o Senhor da História,
Aquele que conduz os acontecimentos segundo os Seus propósitos de amor,
salvação e restauração.
Isto é suficiente para que o
livro de Daniel seja considerado um poderoso antídoto contra o veneno do
secularismo que lamentavelmente está cada vez mais presente nos arraiais do
cristianismo, e por culpa dos próprios cristãos. Como a Dra. Joyce Baldwin
afirma, “a Igreja tem a si mesma exclusivamente para culpar se a fé numa
dialética impessoal tem, na mente de muitos, suprepujado a fé no Deus
Onipotente como o controlador da História. O secularismo nega o sobrenatural.
Por muito mais razão, portanto, necessita a Igreja crer nas certezas
proclamadas por Daniel, isto é, que Deus constantemente exerce Seu controle e
juízo sobre os negócios humanos, derribando o poderoso, subvertendo regimes
injustos, e efetivamente introduzindo o Seu reino, o qual deve incluir todas as
nações. Plena e confiante proclamação do propósito de Deus para toda a História
necessita ser ouvida sem delonga.” (Daniel
- An Introduction & Commentary, pág. 17)
O
relato histórico do livro é uma vívida ilustração desse fato. O capítulo 1 abre
com a afirmação de que foi Deus Quem entregou os judeus nas mãos dos
babilônicos. Em outras palavras, mesmo o desastre do cativeiro cumpre um
objetivo divino. Na sequência, a ação divina em Babilônia deixa claro que Deus
continua com Seu povo, e que finalmente o libertará. O capítulo se encerra com
a menção do “primeiro ano do rei Ciro” (v. 21), o ano da libertação dos judeus.
Deus
igualmente comanda os eventos relatados no capítulo 2; Ele acaba reconhecido
como Deus dos deuses e Senhor dos reis, o que também propicia a exaltação de
Seus servos, particularmente Daniel. A presença divina com os três hebreus na
fornalha ardente do capítulo 3, responde o desafio do rei Nabucodonozor “quem é
o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (v 15), e reafirma a
participação divina nos negócios humanos. A loucura do rei no capítulo 4 e sua
reposição ao trono de Babilônia é clara evidência de que “o Altíssimo tem
domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (v. 32). A queda e
levantamento de impérios, portanto, ocorre debaixo da soberania diretiva de
Deus, o que claramente se distingue no capítulo 5, onde a Medo-Pérsia substitui
Babilônia no domínio mundial, e cumpre o que é anunciado nas profecias dos
capítulos 2 e 7.
O capítulo 6
conclui a parte histórica reassegurando a atuação protetora e salvífica de Deus
em favor de Seu povo enquanto o conflito com os poderes opostos continua. O
capítulo 10, considerado uma descrição do contexto histórico da última visão de
Daniel, consubstancia exatamente esse ponto.
O Triunfo
Não
resta a menor dúvida, segundo o teor geral das profecias de Daniel, que o reino
de Deus triunfará, e que quando isto acontecer os planos divinos estarão
plenamente concretizados. Cada quadro profético do livro culmina com esse fato.
No capítulo 2, o reino de Deus, representado pela pedra que destrói a estátua
com a qual Nabucodonozor sonhou, é estabelecido para jamais passar. No capítulo
7 o Filho do homem dirige-se ao Ancião de dias para assumir o “domínio, a
glória e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas O
sirvam.” (v. 14). Nos capítulos 8, 9 o santuário de Deus é purificado no tempo
determinado por Ele. Finalmente nos capítulos 11, 12, a marcha e contramarcha
da História é concluída com a manifestação de Miguel, o grande príncipe, que se
levanta em defesa de Seu povo. É assim que Daniel pinta o quadro da volta de
Jesus com suas implicações.
Os
temas teológicos abordados pelo escritor suprem igualmente o significado e a
natureza da profecia bíblica em Daniel. Do tema preponderante, o domínio
de Deus, derivam outros, igualmente importantes, como o julgamento divino e a ação
divina na História. Ele age na História porque Ele julga, e julga porque é
soberano nos negócio humanos. Ele é o Grande Juiz porque domina sobre todos. Em
vista disso, tanto o povo de Deus como os seus inimigos passam pelo crivo do
juízo divino, o primeiro para ser justificado, vindicado e salvo para sempre,
enquanto o segundo para ser desmascarado, condenado e destruído. Assim o juízo
possui um caráter salvífico e ao mesmo tempo condenatório, fato que o escritor
salienta respectivamente nos capítulos 4 e 5, o centro da parte aramaica. Mas a
justificação, vindicação e salvação para uns, e o desmascaramento, condenação e
destruição para outros, se efetivam através de atuações específicas de Deus.
A Figura Dominante
Outros
temas tocam direta ou indiretamente este ponto. A angelologia de Daniel, por exemplo, salienta que Deus usa
determinados agentes no cumprimento de Seus propósitos, os anjos, embora o
livro não ignore também a instrumentalidade humana como recurso da ação divina.
Anjos também são usados no processo de comunicação e elucidação desses
propósitos. Outro exemplo é o tema da oração,
o qual pressupõe o fato de que Deus pode operar e por isso o homem ora. Alguns
temas apontam para ações específicas de Deus, como o tema do livramento e da ressurreição.
A
cristologia de Daniel deve também ser
considerada. Não somente Cristo se acha presente como figura proeminente em
determinados eventos, mas é Ele a razão e o meio através do qual Deus age,
segundo consta no livro. Por exemplo, se o tema do juízo está presente em todo o livro, e se “o Pai a ninguém julga,
mas ao Filho confiou todo o julgamento” (Jo 5:22), temos que convir que Jesus
aparece como expressão principal em cada capítulo de Daniel. Mas se é verdade
também que não apenas o juízo, mas “todas as coisas” foram confiadas às mãos de
Cristo (Jo 3:35), então Cristo é a agência principal da ação divina, e a
cristocência do livro de Daniel é plena. Afinal, qualquer ação divina em
qualquer tempo da História, decorre do plano da redenção e de seu cumprimento
em Cristo e por Cristo.
O
cativeiro babilônico dos judeus, que permanece como pano de fundo da mensagem
de Daniel e do qual finalmente Deus liberta o Seu povo, se torna assim, um
apropriado tipo do cativeiro do pecado, do qual Deus libertará a raça caída,
mediante Cristo. Que isto é verdade, é suficiente observar que o Apocalipse
emprega o termo Babilônia para
identificar o elemento opressor do povo de Deus nos dias finais da História, e
do qual Deus finalmente o liberta. Em 1Pd 5:13 o termo define o poder dominante
nos dias apostólicos. Assim, a libertação dos judeus do jugo babilônico é vista
como um dos grandes eventos redentivos do Antigo Testamento.
Não é,
portanto, por mero acaso que Jesus é a figura dominante no conteúdo profético
de Daniel. Ligamos naturalmente a idéia da pedra e do reino divino no capítulo
2 com Cristo. É Ele também, em primeira instância, o Filho do homem no capítulo
7, e o Príncipe dos príncipes, Aquele que purifica o santuário, no capítulo 8.
Nos capítulos 10 a 12 Ele é Miguel, que a princípio socorre o próprio Daniel, e
no fim se levantará para libertar o seu povo.
De particular
referência, todavia, é a profecia das 70 semanas no capítulo 9, que determina o
tempo do primeiro advento, e dos acontecimentos básicos ligados a ele. Na
verdade, os capítulos 8 e 9 formam uma unidade temática que apresenta em
essência o plano da redenção: a expiação plenamente executada (Dn 9) e
plenamente aplicada (Dn 8). Os dois capítulos “representam e incluem a
miraculosa encarnação, a vida sem pecado, a unção divinamente atestada, a morte
expiatória, a ressurreição triunfante, a ascensão literal, o ministério
intercessor, e, então, a gloriosa volta de nosso Senhor a fim de reunir os Seus
santos para estar eternamente com Ele... A profecia é essencialmente a
revelação da atividade redentora de Deus em e por meio de Jesus Cristo. Estes
capítulos são, portanto, muitíssimo preciosos..., pois formam a chave da
imponente abóbada da completa e gloriosa salvação por meio de Jesus Cristo.” Questões Sobre Doutrina (Casa
Publicadora Brasileira, 2009), 194.
A centralidade
da cruz nas profecias de Daniel é para ser vista objetivamente, no fato de que
as 70 semanas são o centro da parte hebraica do livro, sendo a morte do Messias
o centro do centro. Lembramos ainda que as predições escatológicas de Daniel se
cumprem primeiramente em Cristo, para depois se cumprirem na História. Esse
fato pode ser observado nas entrelinhas de suas profecias.
Finalmente,
diríamos que seria justo considerar a pessoa de Daniel um tipo de Cristo, pelo
menos em alguns aspectos. Ele vem à Babilônia por razão do pecado de seu povo,
e propõe de início não se contaminar. Em Babilônia, mas não de Babilônia, é ele
principalmente o porta-voz do Deus verdadeiro junto à corte pagã de dois
grandes impérios, bem como certamente uma palavra de estímulo e encorajamento àqueles
no cativeiro. Mais que isso, atua como peça-chave junto aos poderes dominantes
para que finalmente o retorno dos judeus à Palestina se torne uma realidade. Há
certa identidade entre o profeta e sua mensagem, ao ponto em que não é possível
distinguir se o anjo, ao declarar-lhe a promessa que encerra o livro (12:13)
esteja fazendo referência a ele ou ela, ou a ambos, o que é mais provável. De
forma muito mais ampla, esse fato é verdade com respeito a Cristo e Sua
mensagem.
Convido
o caro leitor a que leia e estude o livro de Daniel na Bíblia. É algo
emocionante e ao mesmo tempo compensador.
Meu amigo.
ResponderExcluirEu ainda não tenho gabarito à altura de compreender toda a profundidade escrita neste post sobre O Livro de Daniel, mas sinto imensa tranquilidade no fato de que Miguel está agora conosco para nos animar e motivar na jornada difícil em que já começamos a caminhar desde que Cristo nos encontrou à beira do caminho. Parabéns pelo texto.