terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Tema 04

Você Já Ouviu Falar em Escatologia?

 José Carlos Ramos
Engenheiro Coelho, fevereiro de 2013
                                                                                                                                                                                                                                                                      
            Além de absoluta, a revelação de Deus em Cristo é também final. Esse fato comunica uma dimensão escatológica a esta revelação. Escatologia é um termo de origem grega que se refere aos eventos finais da história do mundo, tais como a 2ª vinda de Jesus, a ressurreição dos mortos, o milênio, etc. Os tempos escatológicos, anunciados desde o Antigo Testamento, se fizerem presentes em Jesus e transcorrem a partir dEle (At 2:17, 22; 1Co 10:11; Hb 1:2; 9:26; 1Pd 1:20; 1Jo 2:18). Com Ele chegou a “plenitude do tempo” (Gl 4:4) quando Deus executou Seu ato soberano e definitivo de salvação (Ef 1:7-10).
            Um estudo mais ponderado dos eventos escatológicos nos leva a compreendê-los como possuindo um duplo caráter de cumprimento: em Cristo e na História, este resultante daquele. Porque tudo se cumpre primeiramente em Cristo, podemos ter certeza de que tudo se cumprirá, em seu devido tempo, na História (ver Mt 5:17, 18); não há como deter as profecias em seu cumprimento histórico, uma vez que estão cumpridas em Cristo. Não pensar assim é ignorar que do ato salvífico fundamental de Deus em Cristo decorre Sua ação salvífica em todas as épocas e lugares. Portanto os atos salvíficos finais de Deus na História, justamente o que dá conteúdo à escatologia, são dependentes daquilo que Deus operou em Cristo. Eles se projetam na História como atos já consumados nEle.
            Isto significa que não podemos obter senão um quadro parcial e até mesmo distorcido da escatologia bíblica, quando não a consideramos em seus 3 distintos aspectos: realizada, inaugurada e intensificada. O último lance escatológico é naturalmente a consumação final, quando este velho mundo de pecado cederá lugar ao mundo restaurado de Deus. Então os eventos escatológicos, que até agora estão plenamente cumpridos apenas em Cristo, terão obtido pleno cumprimento também na História.

A Escatologia Realizada em Cristo

            A escatologia deve, portanto, ser vista antes de tudo como plenamente realizada em Cristo. De alguma forma o tão esperado e anunciado “dia do Senhor” irrompeu na História com o primeiro advento. H. H. Rowley observa a esse respeito que “enquanto Deus era crido estar sempre ativo no plano da História, usando a natureza e os homens para cumprir Seus objetivos, o Dia do Senhor era encarado como o dia de uma ação mais direta e clara.” (The Faith of Israel, pág. 179). Esta, inequivocamente, pode ser contemplada no ministério terrestre de Jesus, que culmina com Sua morte, ressurreição e ascensão. E é precisamente porque a ação divina ocorre clara e distintamente em Cristo, que o “dia do Senhor” deverá ocorrer em caráter definitivo na consumação da História.
            Em Cristo, de alguma forma, o mundo chegou ao fim. O ato de Deus executar o plano da redenção em Cristo, fato para o qual converge, como já se viu, o todo da ação salvífica de Deus na História, é, usando a linguagem do Dr. Bornkamm, “um evento neste tempo e neste mundo, e, simultaneamente, um evento que põe um fim e um limite a este tempo e a este mundo.” (Jesus of Nazareth, pág. 184).
            Esta é uma verdade solene e suficientemente profunda para a comentarmos aqui em seus pormenores. Devemos lembrar, todavia, que ao morrer na cruz Cristo viveu a experiência de um mundo mau e perdido que deverá agonizar e definitivamente passar no tempo estabelecido por Deus. As palavras de Cristo no contexto da crucifixão, “se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco?” (Lc 23:31), denotam que o mundo enfrentará também o seu calvário; ele chegará ao seu fim. Mas esse passamento final do mundo poderia ser evitado caso ele aceitasse a Jesus como o seu Salvador e Senhor. Foi para isso que Ele sofreu, agonizou e morreu; Ele o fez por ter assumido a culpa e penalidade de toda a raça, tornando-se a expiação pelos pecados “do mundo inteiro” (1Jo 2:2). Mas rejeitando a própria remissão o mundo enfrentará, por si mesmo, o seu calvário, para ceder lugar a um “mundo novo”, tal como Jesus morreu para depois ressuscitar imortal.
            Por outro lado, a ressurreição de Jesus substancia a imortalização daqueles que O aceitam. Tal imortalização ocorrerá igualmente na consumação final (1Co 15:51-55). Isto explica porque Jesus é qualificado como “as primícias” dos que dormem (v. 20). Sua ressurreição encabeça a dos salvos: “Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na Sua vinda” (v. 23). Ela é, na verdade, o prelúdio dos “novos céus” e da “nova terra” que emergirão quando este velho mundo desaparecer como resultado último da redenção cumprida na cruz. A palavra “primícias” faz referência aos primeiros cereais colhidos na Palestina. Porque toda a terra e sua produção eram um dom do Senhor e a Ele pertenciam, os hebreus eram instados a reconhecer esse fato e agradecer por ele oferecendo a Deus os primeiros frutos. A figura dos “primeiros frutos”, ou “primícias”, portanto, é muito apropriada para ilustrar a escatologia realizada, lembrando que incorporavam o todo da colheita.
            No plano da escatologia realizada, portanto, não é preciso aguardar a consumação final para que a “nova criação” ocorra. Ela já existe na pessoa de Cristo, e, por extensão, na experiência de Seus seguidores. Com efeito, “se alguém está em Cristo, é [não será] uma nova criação” (2Co 5:17, Nova Versão Internacional). Em outras palavras, a experiência do homem na salvação é, a partir da cruz, desfrutada em termos de uma realidade escatológica. Em Cristo os crentes chegaram “ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia” (Hb 12:22), fatos que, no plano da História, só ocorrerão na consumação final.

A Escatologia Realizada na História

            Entretanto, o mundo mau e pecaminoso ainda persiste. Em Cristo a era porvir se introduziu na História para coexistir até o fim com a atual. É o e o não ainda, claramente esboçados no Novo Testamento. A escatologia, que possui o caráter de realizada em Cristo, deve, em virtude desse fato, adquirir também o caráter de realizada na História. O processo dessa realização, que começou com o primeiro advento, ainda continua. Ele tem se desenvolvido na passagem dos séculos, e marcha agora para a sua culminação. Por isso dizemos que a escatologia bíblica, além de realizada em Cristo, deve ser entendida também como inaugurada por Cristo. Desde a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, o mundo vive seus “últimos dias”. Satanás, “o deus deste século” (2Co 4:4), sabe “que pouco tempo lhe resta” (Ap 12:12). É esse fato que empresta significado à mensagem da iminência do fim, registrada repetidamente nas páginas do Novo Testamento. Embora a passagem do tempo possa ser constrangedora para nós devido a sensação de demora, devemos admitir que o plano divino está sendo cumprido e será plenamente concretizado. “Os desígnios de Deus não conhecem adiantamento, nem tardança.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 28.)
A descida do Espírito Santo no Pentecostes, o evangelho estendido aos gentios, a destruição de Jerusalém no ano 70, o predomínio medieval do anticristo e a reforma protestante, podem ser apontados, entre outros, como eventos distintamente escatológicos. De aproximadamente 250 anos para cá esses eventos têm-se intensificado numa evidência da proximidade do fim. Isso define o terceiro aspecto da escatologia bíblica, escatologia intensificada, que estabelece a última fase dos tempos escatológicos. Com base nas profecias, particularmente de Daniel e Apocalipse, datamos o início desse período final da História para 1798 (com uma possível antecipação para 1755 com o terremoto de Lisboa) a partir de quando o chamado “tempo do fim” se faz presente. É a essa fase que se aplicam as palavras de Ap 10:6, “já não haverá demora”, ou tempo, segundo o original. Com efeito, em 1844 termina o mais longo período profético das Escrituras, os 2300 dias/anos de Dn 8:14, cumprindo o que o anjo predissera ao profeta, de que esse período atingiria o “tempo do fim” (v. 19).
            Assim, com base no que Deus fez em Cristo há mais de 1900 anos, e substanciado pela maneira como Ele tem operado a partir de então, particularmente em nossos dias, podemos antecipar o momento em que Ele completará Sua obra de redenção e todas as coisas serão restauradas. Aquilo que antes foi realizado em Cristo deve atingir a plenitude, com sua realização na História e no universo. Então o plano salvífico de Deus estará plenamente consumado, não somente em sua execução, mas também no alcance de seus efeitos.
            Todos esses eventos proclamam em alta voz que o futuro já começou, e que Aquele que iniciou Sua boa obra “há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1:6).

2 comentários:

  1. Vamos lá meu amigo! Não há o que temermos!
    Desde que foi necessária a proclamação da 1ª profecia da redenção (Gên 3:15), a Terra e os seres humanos padecem sob o imenso peso das consequencias do pecado(Rom 8:22 e 23), mas ao mesmo tempo, todos os que em Adão receberam as vestes do Cordeiro estão seguros como filhos adotivos. O plano da redenção vai seguindo seu curso também em consequencia do que aconteceu na cruz, na ressurreição e ascensão. O tempo continua sua história revelando aparente demora para mortais como nós, mas esta só acontece, porque nós medimos tudo pelo transitório campo de nossa finitude, mas Deus mede tudo pela eternidade exemplificada na vida eterna oferecida por Cristo. Agora, justamente agora Cristo opera os benefícios de Seu sacrifício a favor de todos os que já O aceitaram e O seguem, e também a favor de todos os que ainda irão aceitar e herdar a salvação. Parabéns mais uma vez pelo texto maravilhoso e esclarecedor. Robin.

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  2. Pura verdade! Por isso a Bíblia admoesta: "...eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação" (2Coríntios 6:2); e apela: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração." (Hebreus 4:7)

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