quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Jesus Cristo, a Norma Final

Tema 05

JESUS CRISTO, A NORMA FINAL
           
José Carlos Ramos
Engenheiro Coelho, SP, fevereiro de 2013
                                                                                                                                                                  
           
             Como último aspecto da revelação de Deus em Cristo destacamos que ela é normativa, no sentido de que todo genuíno conhecimento de Deus é dependente dela. Isso significa precisamente que não existe qualquer revelação desconectada de Jesus Cristo, não importa se outorgada antes ou depois dEle, pois Ele é a fonte de revelação divina em qualquer época. Ademais, Ele mesmo veio até nós trazendo a “última palavra”.
            Esse fato transparece no relato da transfiguração de Jesus, principalmente na forma como o evangelista Lucas a expõe. O incidente é geralmente tomado como uma representação do segundo advento, quando Cristo, com majestade e glória, se manifestará ao mundo. De fato, Pedro, um dos que testemunharam a transfiguração, a ela se referiu nestes termos: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da Sua majestade, pois Ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com Ele no monte santo.” (2Pd 1:16-18).

Glória Futura

Dentro desse significado, Moisés e Elias, vultos da antiga dispensação e que apareceram também glorificados ao lado de Jesus, representam apropriadamente os dois grupos de salvos quando Jesus voltar - pela ordem, os que ressuscitarão e os que serão trasladados sem ver a morte. Este é o sentido prospectivo da transfiguração.
Pelas palavras de Judas 9, podemos inferir que Moisés morreu e ressuscitou para não mais morrer; nesse caso ele é o único vulto do Antigo Testamento, quanto se saiba, a ter desfrutado esta experiência, sendo, portanto, o único que poderia estar presente na transfiguração para representar os salvos ressurretos na volta de Jesus. Porém, quanto a Elias representando os salvos vivos naquele dia, sabemos não ter sido ele o único transladado sem ver a morte. Enoque passou pela mesma experiência e poderia igualmente representar aquele grupo. Então, por que esteve com Jesus, naquele momento de glória, Elias e não Enoque? A razão é mais que uma simples questão da soberania divina indicando este ou aquele para estar com Jesus. Ela se relaciona com o sentido retrospectivo da transfiguração, comentado a seguir.

Realidade Passada

            Um prelúdio de algo que ainda espera por acontecer não é tudo o que a transfiguração nos oferece. O evento suporta um sentido também retrospectivo, isto é, que evoca realidades do passado. O próprio Pedro diz que a transfiguração confirmou “a palavra profética” (2Pd 1:19), isto é, a mensagem profética do Antigo Testamento. De que forma?
            Pouco tempo antes Jesus havia anunciado aos discípulos o que esperava por Ele em Jerusalém: aprisionamento, julgamento, condenação e morte na cruz, sucedida pela ressurreição ao terceiro dia (Lc 9:22), tudo para cumprir o que as profecias previam (veja 18:31-33; 22:22). Isto foi um tremendo choque para os discípulos. Por compartilharem dos conceitos messiânicos populares da época (fruto de interpretação profética distorcida), supunham que realmente Cristo subiria a Jerusalém não para se encaminhar para a cruz, mas para se assentar no trono de Davi. Na ocasião Pedro falou pelos demais e foi devidamente repreendido por Jesus (Mt 16:22, 23).
            A transfiguração foi um ato misericordioso de Jesus para ajudar os discípulos a compreender a verdade e prepará-los para a difícil hora. Deveriam perceber que não entendiam corretamente as profecias e desconheciam o propósito divino. A presença de Moisés e Elias conversando com Jesus acerca de Sua morte em Jerusalém (Lc 9:31) era providencial para este propósito.
            Moisés e Elias estavam ali como representantes das duas grandes divisões do Antigo Testamento como adotada pelos judeus: a Lei e os Profetas. Eles representavam todos aqueles que haviam sido instrumentos de Deus na comunicação de Sua mensagem antes que Jesus viesse. Mais uma vez se pode observar que o tema fundamental dessa mensagem é o plano da redenção levado a efeito por Jesus. Por esta razão, apenas Elias poderia estar com Ele no monte, já que Enoque, um dos patriarcas antediluvianos (Gn 5:21-14), não poderia representar a segunda divisão do Antigo Testamento.
            Mas os discípulos demoravam para entender. Mais uma vez Pedro falou pelos demais, e falou uma impropriedade: “Mestre, bom é estarmos aqui; então façamos três tendas [o que lembra o tabernáculo no deserto]: uma será Tua, outra de Moisés e outra de Elias.” Ele fez esta sugestão “não sabendo, porém, o que dizia” (Lc 9:31). Estava colocando Jesus no mesmo nível dos profetas anteriores e isso não podia ser feito. Então, o próprio Pai o repreendeu: “Este é o Meu Filho, o Meu eleito: a Ele ouvi” (v. 35). Era Deus reivindicando as prerrogativas do Filho como a revelação encarnada, o próprio Deus enviado na forma de profeta. Na verdade o Pai estava dizendo: “É Ele Quem tem a palavra final; é Ele Quem deve falar.” Toda a revelação dada anteriormente tem o seu valor na medida em que é interpretada à luz do que Jesus tem a dizer. “Depois daquela voz, achou-se Jesus sozinho” (v. 36). Ele é único, singular; ninguém se iguala a Ele, e a revelação feita nEle e por meio dEle deve nortear a compreensão da revelação comunicada em qualquer época e por qualquer meio.

Reino Espiritual

            Julgamos ser este fato de importância capital agora, quando especulações proféticas e interpretações distorcidas estão na ordem do dia. uma tendência crescente de se estudar as profecias descentralizando-as de Cristo. Linhas interpretativas que ignoram a revelação final e normativa feita por Cristo conforme registrada no Novo Testamento devem ser rejeitadas, se não queremos enveredar pelo mesmo caminho do judaísmo do tempo de Jesus. É o caso do  dispensacionalismo, que exige das profecias referentes a Israel no Antigo Testamento um cumprimento literal e incondicional, uma interpretação que se fundamenta numa compreensão antes étnica do que espiritual de quem é o povo de Deus, e que se manifesta num caráter mais palestinocêntrico do que cristocêntrico.
            Como Louis F. Were observa com muita propriedade às páginas 19, 21 e 23 do livro The Moral Purpose of Prophecy, a história da interpretação literalística das profecias, feita pelos judeus dos tempos de Jesus, se repete no sistema futurista de interpretação (este e outros sistemas de interpretação serão futuramente explicados). Entre outras ponderações, ele afirma: “A menos que nossas interpretações das profecias revelem a Cristo, nós também fracassaremos em compreender o seu verdadeiro significado. Os judeus acabaram rejeitando a Cristo porque interpretaram mal as profecias concernentes a Israel. Eram rígidos literalistas, sem discernimento espiritual. Semelhantemente hoje, milhares de professos cristãos estudam as profecias e as aplicam mal, seguindo o exemplo dos judeus. A história está se repetindo. Muitos cristãos professos estão caindo no mesmo erro de interpretar as profecias relativas a ‘Israel’ num sentido palestiniano literal, deixando de ver que os judeus, justamente por seguirem este sistema de interpretação, rejeitaram a Cristo e a seu reino espiritual, crucificaram-nO, e perderam o direito às bênçãos prometidas. Da mesma forma hoje, através do sistema literal, palestinocêntrico de interpretação - o futurismo - pessoas são levadas a interpretar mal e mesmo rejeitar a última mensagem de Cristo acerca dos últimos eventos no reino espiritual de Israel.” (Itálicos originais do autor)
            A mensagem do Novo Testamento com respeito a Jesus como revelação plena, final e normativa de Deus e Seu propósito de salvação, é decisiva para a verdadeira compreensão do conteúdo profético da Bíblia. Ignorar esta mensagem é expor-se ao risco de compreender mal o que foi exposto para o nosso bem. E compreender mal a verdade é outra maneira de acabar crendo no engano, o que resultará em grande perda.

Um comentário:

  1. Mano.
    Da postagens sobre a revelação de Cristo no contexto de nossa história como cumprimento literal de tudo que a profecia traçou, este último post traz consigo o maior conforto de toda a história da humanidade pecadora - A Ressurreição e o traslado das duas classes redimidas pelo sangue do redentor.
    Deus seja eternamente louvado!

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